28 outubro 2013

Uma carta para depois

Eu não tenho o dom das palavras. Eu não consigo fazer com que os períodos se ajuntem em uma única frase que possa expressar seja lá o que for que eu esteja sentindo no momento. Eu desconheço figuras de linguagem e passo bem longe da semântica. Eu não tenho o dom das palavras, não sei persuadir, não sei dizer em frases de efeito coisas tocantes e, tão pouco, coisas que façam refletir.  
Eu queria, eu bem queria poder expressar com conjunções e preposições o que tá aqui dentro e parece me sufocar. Quando a gente fala, a gente se liberta. Involuntariamente, organizamos nossos próprios pensamentos. Mas eu não tenho o dom das palavras, eu não sei fazer prosa ou poesia pra dizer pra você, amor, que eu te quero por perto.
Eu já tentei parafrasear e até rimar, mas meu bem, que coisa difícil é essa de traduzir o que a gente grita por dentro. Dizem que o amor é um sentimento grande demais pra se colocar em versos, e eu me apoio nessa desculpa pra não precisar falar. Eu sei que palavras não amam ninguém, mas pra quem ama talvez elas não devessem ser tão difíceis de se pronunciar. 
Eu quero gritar ao mundo e tirar isso do mudo. Mas eu não tenho o dom das palavras. Eu fico aqui nessa agonia, nessa coisa louca de tentar fazer você me entender, me ler, me compreender sem que eu precise usar-me de verbos de ligação.
Eu não gosto desse jogo de caça-palavras em que estamos, onde eu dou as pistas e você tenta descobrir o que está se passando na minha cabeça. Eu não quero fazer disso um jogo e muito menos um fardo. Eu não quero ser como palavras cruzadas, com casinhas contadas pra te falar o que eu sinto.
Me perdoa por este texto desconexo, essa carta mal formulada que nem a data está datilografada. São apenas palavras soltas, que relatam sentimentos bem presos. 
Por fim, amor, saiba que de todas as palavras do mundo, de todas as frases e de todas as expressões, eu espero que nenhuma delas equivalha ao meu “eu te amo.” Que às vezes sai engasgado, quase que rasgando a garganta,  mas não por ser forçado, claro que não! Mas porque é forte. É forte demais para ser guardado.

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