08 setembro 2015

Faces e fases


Eu me transvesti de você e de tudo aquilo que você queria que eu eu fosse. Respondi as suas expectativas sobre mim e esqueci do que um dia eu cheguei a ser. Cada cena uma performance; e em todo esse teatro eu me aglutinei a cada personagem que criei para te satisfazer. Eu já estava exausta de ser tantas sem ser ninguém. Mas demorei pra enxergar isso porque, no fundo, todo esse encanto de "faz de conta" e a derradeira ideia de que eu poderia ser tudo que eu queria ser, me seduzia.
Me seduziu até o momento em que você trocou a peça. Mudou os personagens, o figurino e seguiu um roteiro onde o papel de protagonista já estava ocupado: era seu. Talvez desde o princípio fosse assim, e eu me metia como coadjuvante achando que isso poderia ter alguma importância ou que a minha promoção não tardaria. Mas tudo sempre se resumiu a você. 
Foi difícil desencarnar o papel. Foi difícil deixar os trejeitos de cada pessoa que vivia aqui. E foi só quando me vi livre das muitas faces que, enfim, me vi livre de você e pude me perceber. Você ocupava um lugar tão grande em mim que eu quase tive que me forçar a acreditar que existia um "eu" além de você e que no fundo ainda poderia haver algum espaço onde você não tinha invadido. 



Não te culpo por isso, na verdade, culpo sim. Isso tudo me levou a 3 panelas de brigadeiro por semana mais a conta do analista. Mas o que eu quero dizer é que não foi só você que me machucou, eu fiz isso comigo mesma. De insegura pensei em me preencher com alguém, depositei minha felicidade sobre as suas costas e isso foi a coisa mais egoísta que pude fazer. Você pode chamar de carência, imaturidade ou qualquer coisa assim, eu quis me achar me procurando em outro alguém e, veja só, não foi bem isso que encontrei. Tentei achar atalhos quando o único caminho que eu precisava trilhar era o meu, e só.
Eu resolvi escrever tudo isso quando meu whats apitou. Era uma mensagem sua dizendo que ainda me amava. E seja lá o que você quis dizer com a mensagem eu quero te dizer que nunca foi amor. Pode ter sido dependência, paixão ou um desejo masoquista, mas amor... Ah, meu bem isso nunca foi. O amor é imune de obrigação, de ciúmes, de reservas. O amor não te exige nada em troca, ele só ama. Pelo que se é e não pelo que se deveria ser. Ele não é dependente, ele coopera. Não há amor de duas partes, o amor vive num par de inteiros. E eu quero te agradecer por ter me tirado de cena e ter seguido a peça sem mim. Espero que um dia você se encontre e não precise mais do palco. Eu to bem, não tenho mais tempo de atuar, para ninguém e por ninguém. Estou muito ocupada sendo eu mesma.

Um comentário:

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