15 dezembro 2015

Carta ao marinheiro


Então me diz se não foi assim: Comecei a te perder quando te quis.
Éramos dois viajantes vindos de mundos tão distantes que por uns minutos resolveram ancorar. Foi quando começou o erro. Eu quis passar uma vida, você uns minutos, talvez um jantar. Eu que sempre gostei de voar, aterrissei. Eu que sempre gostei de navegar, ancorei. Nas idas e vindas dessa vida, te encontrei. Parei. Escutei. Acreditei. Que nessa ou noutra vida você seria meu lar. Lugar para amar, ser, estar. E você meio sem jeito vinha me falar que do seu lado eu não podia ficar. Com sorriso de canto, jeito maroto dizia que seu lance mesmo era viajar. Ei amor, engano seu, eu nunca quis te parar. É que nessa vida eu só buscava uma companhia, por que ir sozinho se eu posso ser seu par?
Mas você parecia não ouvir, vislumbrado só pensava em partir. Eu te entendo. Eu, navegante antiga, que esses mares da vida já cansei de desbravar e você, marinheiro novo, tinha acabado de zarpar. Você queria conhecer os mares, os ares, as estradas e ver onde isso tudo ia dar. Numa busca incansável do novo, da próxima estação e da próxima companhia para o jantar. Acho que no fundo sua busca era interna, a cada nova cidade, novo porto, novo aeroporto, conhecia mais um sorriso bobo, sem jeito se entregava sem ter hora para voltar. Cê queria era se encontrar, amor. Vê se nesse mundo ou em outro você conseguia um lugar.
Eu, navegante antiga, tentei te alertar que nessa busca você iria acabar voltando para o mesmo lugar. Mas você não quis me ouvir, disse que precisava sair. Que a rotina te sufocava e que a vida andava chata demais de se sentir. Eu, navegante antiga, sorri, acenei. No fundo entendi que você precisava se sentir, ver as ondas por aí, rodar o mundo pra poder voltar. Mas você não me entendeu, rapaz. Eu não quis te parar. Navegante antiga, só queria um par.
Nas andanças que tive por aí, descobri um vazio quando senti que estar em vários lugares não significa lar. Que a gente cabe num abraço e de nada vale a vida, o passaporte ou a ida se não tiver alguém para quem voltar, ou estar, quem sabe ficar, na vida ou no mar. Seja qual for o lugar, no ar, na terra, no que nos espera, no próximo voo ou no próximo zarpar.
Boa sorte, marinheiro. O mundo te espera, ir e voltar.

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