01 abril 2016

Minh'alma. Mais sua, do que minha.



Não sei se você notou o momento exato que minh’alma encontrou a tua. Ela, danada que só, quis logo se misturar, dissolver-se em si e em ti. Quis minh’alma, desnuda, se abrir e adentrar nessa brecha bandida onde você se fez notar. Eu tentei aquietá-la, sussurrei para que não fizesse barulho. Que fosse com calma, porque você, menina-moça, parecia não estar acostumada com esbarrões assim. Que fazem as almas se misturarem, contemplarem, completarem.
 E se, por ventura, eu lhe dissesse que nem minh’alma é dessas? Você, em surto ou por súbito, ousaria acreditar-me? Nas andaças que tivemos, eu muitas vezes a fiz se calar. Não havia lugares seguros onde repousar e, minh’alma, mesmo que aventureira e gostando tanto de conhecer outros lugares e sorrisos, se acanhava, ao entender que mais uma vez não tinha achado seu lar.
Mas quando você chegou, morena, naquele 25 de março, ensolarado, onde as ruas zuniam e os carros pareciam voar. Na turbulência caótica da cidade, numa banca de jornal qualquer, eu não pude conter. Que mal fiz, eu? Se minh’alma de gente grande quis morar em menina pequena, de calçado 36, como o teu?
Minh'alma. Mais sua, do que minha.
Mentiria se não dissesse que pela minha cabeça passou os pessimismos diários e sádicos que sempre ousam nos aprisionar – e rotular. E se a casa não for boa? E se inquilino já tiver? Se a vizinhança for barulhenta demais e a moça dos lábios bonitos simplesmente não me quiser? Mas minh’alma, aventureira, derradeira, inconstante, irrepreensível, entusiasmada e tão espontânea que nem parece vir de mim, sujeito pacato, que costuma olhar o mundo pelos aros grossos dos óculos de ler. Ela, danada que só, se envolveu. Bateu na porta, te chamou pra um, dois, três cafés e um show. E, mesmo sua alma com tantas reservas e “me-disses”, não foi suficiente para a fazer parar.

Entenda, amor, nossas almas se encontraram antes mesmo de nós. Elas se reconheceram, antes mesmos de darmos os nós. Elas foram, antes de sermos. Ela se entreolharam antes de nos entre olharmos. Elas se uniram, e pra nós nem deram o direito de escolha.

Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...